quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Artigo - "Um livro repleto de erros de português", por Fernando Jorge*

O jornalista Fernando Jorge analisa obra do escritor Paulo Coelho: "O que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português". (Foto: Divulgação)

Um livro de Paulo Coelho, intitulado “O demônio e a srta. Prym”, está repleto de cacofonias, redundâncias, disparates, lugares-comuns, afirmativas absurdas, deficiências lingüísticas, frases mal construídas e erros de regência verbal e colocação pronominal. Além disso o escritor carioca não sabe inserir as vírgulas nos seus devidos lugares. Não sabe virgular. Também ignora que não se separa por vírgula o verbo do sujeito.

Mais do que o enredo anêmico, fragilíssimo, o que impressiona no livro é a enorme quantidade de solecismos, de erros de português. Examinemos alguns desses erros, apenas uma pequena parte. Já na página 35 encontrei este: “...começou a rezar para sua avó, morta há algum tempo atrás...”
Eis aí uma expressão redundante. A idéia de passado está bem presente no verbo haver, não sendo necessário, portanto, o uso do advérbio atrás. Paulo Coelho repete o erro em outras páginas do livro:
“Há muitos anos atrás...” (página 36) – “Há três anos atrás...” (página 49) – “Há quatro dias atrás...” (página 58) – “...há milênios atrás” (página 60) – "Há três dias atrás..." (página 67).

Paulo não sabe usar a combinação da preposição em com o pronome demonstrativo aquele, na sua forma feminina, como se vê na página 37 de “O demônio e a srta. Prym”: “De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite...” A noite decidiu matar alguém, era uma criminosa? Se pudesse ser claro, correto, Paulo teria escrito assim: “De modo que resolveu matá-lo naquela mesma noite...”.

Monumental erro de concordância resplandece na página 121: “Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase tiveram ao alcance das mãos.”  O verbo concorda com o sujeito em número e pessoa. É a regra geral, acima violada. 

Convido o amigo leitor para corrigir, junto de mim, a frase do Paulo Coelho: “Nada de apostas: aquele povo não merecia a fortuna que quase teve ao alcance das mãos." 

Paulo Coelho não conhece as regras básicas de colocação pronominal, é incapaz de meter o pronome "se" no seu devido lugar: ".. .desconhecendo que na maior parte das vezes comportam-se. . ." (página 23). Eu e você, amigo leitor, vamos agora corrigir o autor de “O alquimista”: “...desconhecendo que na maior parte das vezes se comportam...”. Mas Coelho é teimoso, insistente e reincidente. Para ele o que não atrai pronome se: “... o que mais temia transformou-se em realidade” (página 98) – "...há um momento em que um homem importante aproxima-se de Jesus" (página 138) – "E que, durante todos estes anos, tornou-se...” (página 160) – “... de modo que ninguém ali descobrisse que, em sua curta viagem até a cidade, transformara-se numa mulher rica”. (página 211).

Observem o cacófato da última frase: “numa mulher”. Aliás, na página 40 há este cacófato medonho: “uma maneira macabra”... É mamar demais, sem ter muito leite!  Aconselho a editora do Paulo Coelho a contratar um professor do nosso idioma para corrigir os gravíssimos erros de português desse escritor. Tais erros ensinam os seus leitores a falar errado, fazem a propaganda da ignorância.

*Fernando Jorge é historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista, enciclopedista e jornalista. Saiba mais em www.fernandojorge.com

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Se o escritor brasileiro mais lido no mundo parece não se incomodar com os pequenos e com os grandes erros em seu texto, o que se dirá de alguns "literatos" que andam escrevendo verdadeiros absurdos na Imprensa e os reproduzindo nos noticiários das emissoras de Rádio? Como diria o saudoso Joelmir Beting: "É para se pensar na cama".

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