terça-feira, 18 de abril de 2017

A CBN erra naquilo em que as outras acertam e vice-versa. Como isso acontece?

As novas apresentadoras Cassia Godoi e Tatiana Vasconcellos, ao lado de Milton Jung, nos estúdios da CBN, em São Paulo (Foto:Fábio Portugal/Divulgação/CBN)
Muito se fala sobre as novas contratações recentes da CBN. Egressas da "arquirrival" Band News FM, as profissionais contratadas vieram a fazer parte da emissora jornalística do Sistema Globo de Rádio, com a promessa de quem as contratou que "renovariam" a linguagem da emissora "global" que, segundo alguns analistas, estaria um tanto "ultrapassada". 

Ao meu ver, tal afirmação não retrata a realidade com precisão. A começar, a CBN, assim como demais veículos do Grupo Globo, seguem um rígido código de conduta - instituído pela holding há pouco mais de dois anos. Na verdade, trata-se de uma consolidação das práticas já executadas de forma "instintiva" pelos seus colaboradores, ao longo de 25 anos de existência da rede noticiosa. Nesta longa lista de "regras", há diversos conselhos sobre como o jornalista deve proceder no trato de seu trabalho, de suas relações com o público, colegas, fontes, etc, entre outras recomendações, sob a justificativa de praticar os preceitos do bom jornalismo.

E, como o amigo internauta sabe, ter uma linguagem "mais descontraída e leve" não significa necessariamente que a emissora vá veicular um produto de melhor qualidade. Então qual seria o problema com o formato adotado pela CBN ao longo desses anos? Ao meu ver, nenhum. Por ser uma atividade humana, a produção radiofônica acaba adquirindo parte das personalidades de seus produtores e executores.

É sempre mau conselho tentar imitar a concorrência "ipsis litteris". Afinal, ainda que tal método fosse eficaz, teria de se "imitar" as condições em que a Band News produz seu noticiário: um número bem reduzido de funcionários se comparado à CBN - sobretudo na área operacional, um número de afiliadas infinitamente menor e que só atua nas capitais dos estados, uma equipe reduzidíssima de repórteres, que só vão à rua quando a chefia julga extremamente necessário e o compartilhamento de recursos das outras rádio do grupo - Bandeirantes e Rádio Trânsito - sobretudo nas reportagens, entre outros detalhes internos inerentes a própria emissora.

Mas o que a CBN deveria fazer para recuperar a suposta liderança no segmento jornalístico radiofônico? Pode-se começar observando o que as verdadeira concorrentes andam fazendo. Depois de muitos anos de uma certa letargia, Bandeirantes e Jovem Pan se "engalfinham" minuto a minuto pela atenção do ouvinte. Elas investem basicamente na análise e interpretação dos fatos sendo feitas pelos seus apresentadores e jornalistas que efetivamente participam da programação. E essa saudável briga tem dado bons frutos para ambas.

O resultado é que, consequentemente, a CBN - que foi e ainda é sinônimo de notícia no rádio - foi ficando para trás porque, de fato - nisso os analistas já citados têm razão, não tentou se renovar de alguma maneira, se tornando um tanto quanto "engessada". Mas este "engessamento" não é causado pela falta de imaginação ou de criatividade de seus funcionários. Arrisco dizer que talvez seja pela estrutura da empresa, bem maior do que a da Band News, o que não signifique que seja ruim.

Apesar de tudo, o ponto forte da CBN ainda é a reportagem de rua, um quesito em que as demais emissoras investem cada vez menos alegando questões "econômicas". Embora não seja tão incisivo como em temporadas anteriores, o trabalho do reportariado pode até ter mudado pouco nessas quase três décadas de história da Central Brasileira de Notícias, porém está muito longe de ser "antiquado", muito menos é "obsoleto" para os tempos atuais. A CBN acerta naquilo em que as outras erram e vice-versa.

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